Cefalometria


INTRODUÇÃO

A cefalometria é a medida científica dos ossos do crânio e da face, utilizando uma posição fixa e reproduzível para radiografias laterais da região craniofacial. Em outras palavras trata-se do estudo científico das medidas da cabeça em relação a pontos de referência específicos; utilizados para a avaliação do desenvolvimento e crescimento facial, incluindo o perfil de partes moles.

A análise cefalométrica se inicia com a realização de uma radiografia latero-lateral de face padronizada por um cefalostato (fig1). O cefalostato é um suporte que orienta a incidência da radiografia, mantendo uma distância constante entre a fonte do rx, o plano sagital mediano do paciente e o filme, desta forma permitindo a reprodução fiel de radiografias.

Sobre a radiografia realizada é colocado um papel acetato e sobre o mesmo traçam-se as estruturas anatômicas e os pontos cefalométricos. Ao unir dois pontos obtemos uma reta (plano) e ao unir duas retas obtemos um ângulo.

As estruturas normalmente traçadas são: órbita, sela túrcica, osso nasal, palato mole, maxila, parede posterior da faringe, mandíbula, incisivos centrais e primeiros molares.

Existem diversos pontos de reparo anatômico, porém os de maior importância são os seguintes: ponto S (sella: ponto médio da sela túrcica), ponto N (nasion: união entre os ossos frontal e nasal), ponto A (ponto mais posterior da superfície anterior da maxila), ponto B (ponto mais posterior da superfície anterior da mandíbula).

O ângulo SNA relaciona a maxila com a base do crânio. Seu valor médio é entre 80 e 90°. Quando maior que 90° a maxila está anteriorizada em relação à base do crânio (promaxilismo), quando menor que 80° está posteriorizada em relação à base de crânio (retromaxilismo).


O ângulo SNB relaciona a mandíbula com a base de crânio. Seu valor médio é entre 75 e 82°. Quando maior que 82° a mandíbula está anteriorizada (prognatismo) em relação à base de crânio, quando menor que 75° estará posteriorizada (retrognatismo).


O ângulo ANB relaciona a mandíbula com a maxila.


Seu valor médio e entre 2 e 4° (classe I de Angle). Quando maior que 4° a maxila está anteriorizada em relação à mandíbula (classe II de Angle). Quando menor que 2° a maxila está posteriorizada em relação à mandíbula (classe III de Angle).

Analisando os três ângulos em conjunto (SNA, SNB e ANB) obtemos medidas acuradas de eventuais discrepâncias no sentido anteroposterior entre a maxila, mandíbula e base de crânio. Por exemplo: um paciente classe III de Angle se apresenta com a mandíbula anteriorizada em relação à maxila.

Esta discrepância pode ser devida a um prognatismo com a maxila na posição correta (SNB aumentado e SNA normal), ou a um retromaxilismo com a mandíbula na posição correta (SNB normal e SNA diminuído), ou ainda a associação de um retromaxilismo com um prognatismo (SNB aumentado e SNA diminuído).

Existem diversas análises cefalométricas de diversos autores (Steiner, Ricketts, MacNamara, Interlandi, etc.) que preconizam diferentes valores de normalidade e parâmetros ao fim do tratamento ortodôntico e/ou cirúrgico. Foge dos objetivos deste artigo a descrição das mesmas, sugerimos ao leitor interessado em aprofundar-se no tema consultar a literatura especializada em ortodontia.

Cefalometria e Síndrome da Apnéia Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) A cefalometria é descrita como exame complementar nos pacientes com SAHOS há vários anos. Fairbanks e Fujita já preconizavam o seu uso para identificar a obstrução de via aérea em tecidos moles e/ou anormalidades esqueléticas na década de 80.

Atualmente não há consenso se a cefalometria deve ser solicitada para todos os pacientes com SAHOS, porém alguns autores acreditam que ela deve ser solicitada para todos os casos que serão submetidos à cirurgia, já que os achados cefalométricos são úteis na decisão acerca do tipo de cirurgia a ser realizada. A cefalometria tem correlação significativa com os resultados da uvulopalatofaringoplastia, estando os insucessos da mesma relacionados a falha em reconhecer a necessidade de associações com outros procedimentos como a suspensão do hióide e o avanço do tubérculo geni (fase 1 do protocolo de Stanford), ou o avanço maxilomandibular (fase 2 do protocolo de Stanford).

As alterações cefalométricas mais encontradas nos pacientes com SAHOS são: retrognatia, via aérea estreita, plano mandibular distante ao osso hióide, base de crânio curta e palato mole alongado. Graus de gravidade da SAHOS variados apresentaram diferenças significativas na estrutura e função da via aérea(4).

As anormalidades cefalométricas variam nos obesos e não obesos com SAHOS, sendo que os não obesos com SAHOS apresentam geralmente uma base de crânio curta e retrognatia, enquanto os pacientes obesos apresentam um palato mole alongado e um aumento do volume lingual, o que levou a teoria do esqueleto craniofacial favorável: pacientes com oclusão dentária adequada (classe I de Angle) tolerariam melhor o excesso de peso sem desenvolver SAHOS, enquanto pacientes com retrognatia desenvolvem SAHOS mesmo com índice de massa corpórea (IMC) adequados.

A cefalometria associada ao IMC possui alto valor preditivo positivo, porém não substitui a polissonografia no diagnóstico de SAHOS.

A cefalometria é exame de extrema importância ao se indicar aparelhos intraorais, podendo fornecer dados adicionais sobre a resposta do paciente a esta modalidade de tratamento (prever a efetividade). Ao se realizar cefalometrias do paciente com e sem o aparelho, e ao comparar ambas haja um deslocamento vetorial antero inferior da mandíbula com o aparelho, provavelmente este paciente apresentará boa resposta. Deslocamentos em outras direções que não o supracitado não possui valor preditivo positivo da resposta ao aparelho.

Entre as limitações da cefalometria devemos lembrar que se trata de uma imagem bidimensional de estruturas tridimensionais e que o paciente encontra-se acordado e em pé. Visando contornar essas limitações alguns autores sugerem realizar a manobra de Muller durante a realização da radiografia na cefalometria,o que pode fornecer mais informações na patogênese do ronco e SAHOS, e realizar a radiografia na posição supina.


CONCLUSÃO

A cefalometria é um exame complementar utilizado pelos dentistas há várias décadas para analisar o esqueleto facial.

O otorrinolaringologista, como cirurgião de face, necessita de métodos quantitativos e objetivos para avaliar o equilíbrio facial. A cefalometria é uma ferramenta que pode ser utilizada para tal, especialmente nos casos de SAHOS e cirurgia estética facial, de baixo custo e fácil acesso (existem diversas clínicas de radiologia odontológica na maioria das grandes cidades brasileiras, que realizam este exame).

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