Doença de Scheuermann

INTRODUÇÃO
A doença de Scheuermann representa uma das causa mais comuns de cifose estrutural, mais frequentemente diagnosticada durante a puberdade. A etiologia e a patogênese dessa condição estão provavelmente relacionadas a fatores biomecânicos, mas sua causa permanece desconhecida. Aumento nos níveis de hormônio do crescimento tem sido documentado, de modo que os pacientes portadores dessa deformidade são mais altos do que a média para sua idade. Fatores genéticos ou ainda necrose avascular do anel apofisário vertebral são condições definidas por outros pesquisadores, mas também sem unanimidade.
 
BALANÇO DA COLUNA VERTEBRAL
A coluna vertebral apresenta uma estrutura global de modo a manter o tronco balanceado tanto no plano coronal quanto no sagital. No plano coronal, o balanceamento normal exige que uma linha vertical traçada do centro do processo odontoide (C2) intercepte exatamente o ponto médio do promotório (S1). Já no plano sagital, uma linha vertical traçada do centro do processo odontoide deve interceptar a borda posterossuperior da primeira vértebra sacral. Fisiologicamente, a coluna vertebral apresenta duas regiões cifóticas (torácica e sacral) e duas lordódicas (cervical e lombar), que atuam em conjunto para manter o balanceamento sagital. Logo, uma acentuação anômala da cifose torácica (p.ex., doença de Scheuermann) geralmente conduz os demais segmentos a uma compensação.
 
CIFOSE ESTRUTURAL X CIFOSE POSTURAL
Uma possível classificação para cifoses leva em consideração sua rigidez. Uma cifose dita estrutural (p.ex., cifose de Scheuermann) apresenta alterações morfológicas no segmento vertebral acometido, o qual é rígido. Já a cifose postural é flexível, ativamente corrigível e sem comprometimento da morfologia das vértebras, discos ou outros componentes.
 
EVOLUÇÃO NATURAL
A evolução natural da doença de Scheuermann não é bem documentada na literatura. Em sua série, Murray et al. reportaram que pacientes com doença de Scheuermann tinham maior frequência de dorsalgia e menor amplitude e força de extensão de tronco quando comparados com uma população normal para mesma idade e sexo. Entretanto, não encontraram diferença significativa referente a nível educacional, número de dias perdidos de trabalho em decorrência da dorsalgia, dor nos membros inferiores, interferência da dor nas atividades diárias, autoestima ou limitação social. Em relação à evolução da deformidade em si, Travaglini encontrou progressão da cifose em 80% dos pacientes, mas o grau de progressão foi pequeno.
O padrão torácico da doença de Scheuermann, mais comum, apresenta menor tendência à progressão e a causar dorsalgia num indivíduo adulto do que o padrão toracolombar, quando sua amplitude é menor que 75°. Em curvas maiores que 80°, o risco de progressão é elevado.
 
ASPECTOS CLÍNICOS
A doença de Scheuermann geralmente acomete adolescentes, não apresentando diferença de prevalência quanto ao sexo. Além da deformidade em cifose, que pode ser torácica ou toracolombar, a presença de dor é comum nos pacientes. A dor é tipicamente de caráter mecânico, piorando com o esforço físico. Geralmente, a dor cessa com a maturidade esquelética. Exceção é feita às curvas de 80°, que, além de apresentarem tendência à progressão, costumam causar dorsalgia persistente.
Ao exame físico, é típica a irredutibilidade da deformidade, que se apresenta como uma curvatura anterior e rígida do tronco do paciente. Pode-se ainda perceber retração dos músculos peitorais, isquiotibiais e flexores dos quadris. Alterações neurológicas são incomuns.
 
ASPECTOS RADIOGRÁFICOS
Em seu trabalho clássico, Sorensen, caracterizou radiograficamente a doença de Scheuermann pela presença de nódulos de Schmorl, irregularidade de placas terminais e pelo encunhamento anterior de 5° ou mais de três vértebras adjacentes no ápice da deformidade. É também comum identificar diminuição dos espaços intervertebrais.
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A cifose postural e a cifose congênita são os principais diagnósticos diferenciais a serem feitos.
A cifose postural é tipicamente flexível, sendo corrigível mediante extensão ativa do tronco pelo próprio paciente. A avaliação com imagens radiográficas não demonstra alterações vertebrais. Por outro lado, a cifose congênita revela a presença de alterações de formação (hemivértebras posteriores) ou de segmentação (barras anteriores) nos exames de imagem.
 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Forames do Crânio

Pólipos nasais

Pé sem perna