História da Radiologia
No final do século XIX, mais precisamente no dia 8 de novembro de 1895 foi descoberto os Raios X pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen ao ver sua mão projetada numa tela enquanto trabalhava com radiações. Por ser muito perspicaz e inteligente imaginou que de um tubo em que ele trabalhava deveria estar sendo emitido um tipo especial de onda que tinha a capacidade de atravessar o corpo humano.
Em seguida, resolveu realizar uma documentação para provar sua descoberta, sendo assim efetuou a primeira radiografia, usando a mão esquerda de sua esposa. Por ser uma radiação invisível, ele a chamou de Raios X. Sua descoberta valeu-lhe o prêmio Nobel de Física em 1901.
Na época - começo do século XX - ocorreu uma revolução no meio médico, trazendo um grande avanço no diagnóstico por Imagem.
Desde esta época até os dias de hoje surgiram várias modificações nos aparelhos iniciais a fim de se reduzir a radiação ionizante usada nos pacientes, pois acima de uma certa quantidade é prejudicial à saúde. Assim foram surgindo tubos de Raios X, diafragmas e grades antidifusoras para diminuir a quantidade de Raios X assim diminuindo a radiação secundária que, além de prejudicar o paciente, prejudicava a imagem final.
Em abril de 1896, fez-se a primeira radiografia de um projétil de arma de fogo no interior do crânio de um paciente, essa radiografia foi feita na Inglaterra pelo Dr. Nelson.Em novembro de 1899, Oppenhein descreveu a destruição da selatúrcica por um tumor hipofisário. Em março de 1911, Hensxhen radiografou o conduto auditivo interno alargado por um tumor do nervo acústico (VIII par.).
Em novembro de 1912, Lackett e Stenvard descobriram ar nos Ventrículos ocasionados por uma fratura do crânio.
Um neurocirurgião de Baltimore, Dandy, em 1918, desenvolveu a ventriculografiacerebral, substituindo o líquor por ar. Assim ele trouxe grande contribuição no diagnóstico dos tumores cerebrais. Por volta de 1931, J. Licord desenvolveu a mielografia com a introdução de um produto radiopaco nos espaços subaracnóideo lombar.
Em julho de 1927, Egas Moniz (Neurocirurgião Português) descobriu a angiografia cerebral pela introdução de contraste na artéria carótida no pescoço. Ao apresentar seu trabalho na Sociedade de Neurologia de Paris, ele disse: "Nós tínhamos conquistado um pouco do desconhecido, aspiração suprema dos homens que trabalham e lutam no domínio da investigação".
A evolução dos equipamentos trouxe novos métodos. Assim surgiu a Planigrafia linear, depois a Politomografia onde os tubos de Raios X realizavam movimentos complexos enquanto eram emitidos.
No Brasil, Manuel de Abreu desenvolveu a Abreugrafia, um método rápido de cadastramento de pacientes para se fazer radiografias do tórax, tendo sido reconhecida mundialmente.
Em 1952, desenvolveu-se a técnica da angiografia da artéria vertebral por punção da artéria femoral na coxa passando um cateter que ia até a região cervical, pela aorta.
Por volta de 1970 através de catéteres para angiografia, começou-se a ocluir os vasos tumorais surgindo assim a radiologia intervencionista e terapêutica. Assim, nos dias de hoje, usam-se catéteres que dilatam e desobstruem até coronárias, simplesmente passando-os pela artéria femoral do paciente, com anestesia local, evitando nesses casos cirurgias extracorpóreas para desobstrução de artérias (famosas pontes de safena).
Também na década de 1970, um engenheiro inglês, J. Hounsfield, desenvolveu a Tomografia Computadorizada, acoplando o Raio X a um computador. Ele ganhou o prêmio Nobel de Física e Medicina. Até então as densidades conhecidas nos Raios X eram ossos, gorduras, líquidos e partes moles. Com esse método, devido a sua alta sensibilidade foi possível separar as partes moles assim visualizando sem agredir o paciente, o tecido cerebral demonstrando-se o líquor, a substância cinzenta e a substância branca. Até essa época, as imagens do nosso corpo eram obtidas pela passagem do feixe de Raios X pelo corpo, que sofria atenuação e precipitava os sais de prata numa película chamada filme radiográfico que era então processada. Com essa nova técnica, o feixe de Raios X atenuado pelo corpo sensibilizava de maneiras diferentes os detectores de radiação. Essas diferenças eram então analisadas pelo computador que fornecia uma imagem do corpo humano em fatias transversais em um monitor e depois passada para um filme radiográfico.
A tomografia computadorizada revolucionou o diagnóstico por imagem, pois sem agressão alguma ao paciente, obtemos imagens em secções transversais de todo o organismo. Hoje se pode diagnosticar em 10 minutos tumor "in situ" de até 1mm de diâmetro localizado na intimidade do cérebro como por exemplo um microneurinoma no interior do conduto auditivo interno e um micropinealoma na intimidade da glândula pineal.
O homem, não satisfeito ainda, descobriu e colocou em aplicação clínica a Ressonância Magnética por volta de 1980. Ela obtém imagens do nosso corpo similares às da tomografia computadorizada, só que com várias vantagens adicionais. Não utiliza radiação ionizante, raramente necessita uso de contraste e são obtidas imagens nos três planos: sagital, coronal e transversal.
A ressonância resulta da interação dos núcleos dos átomos, os prótons de Hidrogênio de número ímpar, com um campo magnético intenso e ondas de radiofrequência. Sob a ação dessas duas energias, os prótons de hidrogênio ficam altamente energizados e emitem um um sinal que apresenta uma diferença entre os tecidos normais e os tecidos patológicos. Essa diferença de sinal é analisada por um computador que mostra uma imagem precisa em secções nos três planos.
O uso do ultra-som na medicina começou logo após a segunda Guerra mundial, em vários centros no mundo. O trabalho do Dr.Karl Theodore Dussik, na Áustria, em 1942, sobre o uso médico do ultra-som na investigação do cérebro foi o primeiro trabalho publicado na área. Outros pesquisadores nos EUA, Japão e Europa também são citados como pioneiros no uso medico do ultra-som. O trabalho do Professor Ian Donald e seus colegas, em Glasgow, na década de 50, teve grande repercussão e possibilitou o desenvolvimento do ultra-som para diagnóstico médico. A partir da década de 60, houve um rápido avanço na melhora da imagem produzida pelo ultra-som (Modo B e Doppler).
Os Primórdios da Radiologia médica do Brasil
O ensino da Radiologia brasileira começou com o curso ministrado pelo professor Roberto Duque Estrada, em 15 de julho de 1916, em 30 lições teórico-práticas, ilustradas com material selecionado do arquivo do Gabinete de Radiologia da Santa Casa. Anos depois, novas instalações enriqueciam o Gabinete de Radiologia da Faculdade de Medicina, transformando-o em um dos grandes patrimônios da história da Radiologia carioca. A partir dos anos 30 a Radiologia se estabiliza no Rio. Na área de ensino, o curso do professor Duque Estrada já contava com a assistência de um jovem radiologista na época: Nicola Caminha. Outras duas escolas de Radiologia já estavam aparecendo, com dois notáveis mestres. Manoel de Abreu, na Faculdade de Ciências Médicas e José Guilherme Dias Fernandes na Faculdade de Medicina do Instituto Hahnemaniano (atual Hospital Gaffrée Guinle) e depois na Escola de Medicina e Cirurgia. A Escola de Medicina e Cirurgia foi inaugurada em 1921, e em 1932 criou a primeira cátedra do país em Radiologia.
Antes do aparecimento das primeiras cátedras nas faculdades, o aprendizado da prática radiológica só existia nos serviços de Radiologia das cadeiras de clinicas médicas, principalmente as da Faculdade Nacional, espalhadas na Santa Casa da Misericórdia, Hospital Moncôrvo Filho e Hospital São Francisco de Assis.
Na década de 40, Nicola Caminha já era conhecido pelo curso de especialização que ministrava semanalmente em seu consultório. Paralelamente, Emilio Amorim montava o seu primeiro consultório e já recebia diversos colegas para troca de idéias sobre laudos. Em 1948, inicia a residência médica em seu novo consultório, ensinando a jovens médicos de diversos estados. O primeiro aluno foi o radiologista Dirceu Rodrigues, do Paraná. Nessa época, os médicos clínicos criaram o hábito de freqüentar os consultórios de Emilio Amorim e Nicola Caminha, para pedir opinião, esclarecer dúvidas e discutir casos.
No começo da década de 50 aparecem os institutos de pensões e aposentadorias, que teriam um papel fundamental no treinamento dos jovens radiologistas. Os chefes dos serviços dos hospitais desses institutos permaneceram em seus cargos por mais de 20 anos. No IAPI, indústria, o professor José Guilherme Dias Fernandes; no IAPC, comerciários, Amarino Carvalho de Oliveira; no IAPETEC, transportes, Júlio Pires Magalháes; no IPASE, funcionários públicos, Nicola Caminha, e no IAPB, bancários, Emilio Amorim.
No Hospital dos Servidores do Estado, Nicola Caminha inaugurou o primeiro programa de residência médica do país em Radiologia. Outros hospitais também instalaram programas pioneiros, como o Hospital de Ipanema, Hospital do IAPETEC, (atual Hospital geral de Bonsucesso) e o Hospital dos Bancários, hoje Hospital da Lagoa.
Armando Amoêdo lembrou que a partir dos anos 50, o ensino da Radiologia se dividia entre os grupos do Dr. Amorim e Caminha. Eles participavam também de diversas atividades cientificas na cidade e em todo o Brasil.
O curioso é que cada um dos colegas tinha uma determinada vocação para um assunto específico, o que constituía na época um fato singular e incomum. Assim, o Dr. Rodolfo Roca era especialista em pulmão, do mesmo modo que o Dr. Amarino. Ubirajara Martins fazia a parte do tubo digestivo, o mesmo ocorrendo com Hermilo Guerreiro, Valdir de Lucae Felício Jahara, que se dedicavam a exames do crânio, enquanto Alberto Álvares e José Raimundo Pimentel cuidavam do esqueleto.
O curso de especialização do professor Caminha se tornou o primeiro em pós-graduação em Radiologia do país, com o reconhecimento oficial do Ministério da Educação. Em 60 passa a ser realizado pela PUC e entra em nova fase.
Nos anos 60 aparece no cenário da Radiologia brasileira a figura de Abércio Arantes Pereira. Desde 1968, se consagrou como um dos principais radiologistas da área de ensino, dirigindo o Instituto Estadual de Radiologia Manoel de Abreu e depois o Serviço de Radiologia do Hospital do Fundão.
Em 72 é criado o Departamento de Radiologia e logo depois o professor Lopes Pontes, diretor da Faculdade de Medicina, nomeia Nicola Caminha como chefe. Abércio Arantes Pereira ficou como responsável pelas disciplinas do Departamento de Radiodiagnóstico, José Clemente Magalhães Pinto, pela Medicina Nuclear e Walter Azevedo, coordenador das atividades didáticas. Após prestar concurso público, Nicola Caminha tornou-se o primeiro professor titular do Departamento, em 1974. No ano seguinte, foram aprovados no concurso para livre docência os professores Abércio Arantes Pereira, Fernando de Souza Penna, Otacílio do Carmo Resende, Waldemar Kischinhevsky, Walte Azevedo, José Clemente Magalhães Pinto e Lenine Fenelon Costa.
A primeira tese de Mestrado em Radiologia foi defendida por Hilton Augusto Koch, em 77, que assumiu a direção do Departamento, em 1994. O departamento só iria se transferir para o Hospital do Fundão em 1978.
Em 1980, Camillo Abud substitui Nicola Caminha, devido a aposentadoria do mestre. No ano seguinte Abércio Arantes Pereira foi eleito chefe do Departamento e logo depois se tornou o segundo professor titular de Radiodiagnóstico. Em 87,José Clemente Magalhães Pinto assume como o primeiro professor titular em Medicina Nuclear.
Primeira aula de Radiologia no Brasil
O Dr. José Gonçalves cedeu, por empréstimo, uma rara e preciosa obra, datada de 1904, intitulada RADIOLOGIA CLÍNICA, de autoria do Professor João Américo Garcez Fróes, Médico e Farmacêutico, Professor da Faculdade de Medicina e da Faculdade Livre de Direito da Bahia. Esse pequeno livro retrata as lições proferidas pelo Professor, no ano de 1903, aos alunos da terceira série do curso da Faculdade de Medicina, lições, aliás, já publicadas na Gazeta Médica da Bahia.
Como não se tem registro de outras aulas de Radiologia, proferidas naquela ou em outras Faculdades, conclui-se que, se esta não for a primeira, certamente será uma delas.
Para que o leitor possa vivenciar melhor a época do Curso em pauta, decidimos publicar as lições com a grafia portuguesa de então, o que ajudará os mais antigos a recordar seus tempos de bancos escolares e, aos mais novos, entrar em contato com a língua pátria de antanho e, lógico, com os limitados conhecimentos da especialidade, vez que o fato se deu apenas sete anos depois da comunicação de Roentgen sobre sua descoberta. Certamente a leitura será enfadonha, mas se trata de um fato histórico que não pode deixar de ser registrado.
A origem da profissão de técnico de radiologia no Brasil
A profissão de Técnico em Radiologia do Brasil tornou-se realidade em 1975 quando o Deputado Federal Dr. Gomes do Amaral deu entrada na Câmara dos Deputados Federais, após muitas lutas com ida e volta, o processo para regularização da profissão, sendo aprovado pela Câmara dos Deputados Federais e encaminhando ao Senado Federal. Nesta jornada, destacou-se a figura do Sr. Jair Pereira da Silva, presidente da Associação dos Técnicos do Estado de Goiás, que politicamente conseguiu amizades com as mais iminentes figuras da Política local e de Brasília, principalmente o Ilmo. Senador da República Henrique Santillo e seus assessores diretos.
A Lei 7.394, que regulamenta a profissão, foi sancionada pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República Dr. José Sarney e pelo Excelentíssimo Senhor Ministro do Trabalho Dr. Almir Pazzianoto dia 29 de outubro de 1985.
Personagens e fatos históricos da Radiologia Brasileira
A primeira radiografia foi realizada no Brasil em 1896. A primazia é disputada por vários pesquisadores: SILVA RAMOS, em São Paulo; FRANCISCO PEREIRA NEVES, no Rio de Janeiro; ALFREDO BRITO, na Bahia e físicos do Pará. Como a história não relata dia e mês, conclui-se que as diferenças cronológicas sejam muito pequenas.
O PRIMEIRO APARELHO INSTALADO NO INTERIOR DO PAÍS
Dr. José Carlos Ferreira Pires foi o primeiro médico a instalar um aparelho de Raios-X no interior do Brasil, na cidade de Formiga, Minas Gerais, a 600 km do Rio de Janeiro. Este aparelho se encontra em Chicago, no Museu de Cirurgia.
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